
O VIAJANTE ILUSTRADO é um projeto expositivo de André Caliman.
Equipe:
Rogério Bealpino – curadoria da exposição
Melina Arins – revisão de texto e tradução
Aluisio Barbosa – diagramação do catálogo
Karina Melo – arte educação
CONTATO:
O VIAJANTE ILUSTRADO
de André Caliman
NENHUM LUGAR SERÁ COMO AQUI
“Cabia-me, pois como testemunha estrangeira e como pintor de História, colher dados exatos e de primeira ordem a fim de servir a uma arte dignamente sagrada a salvar a verdade do esquecimento.”
(Jean-Baptiste Debret em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil)
Era esta a função que Debret se propôs a cumprir quando veio para o Brasil em 1816, aqui ficando por 15 anos a registrar com sua arte os lugares e povos deste país, em especial do Rio de Janeiro. Não fosse ele e outros viajantes como Hans Staden, Rugendas e Saint Hilaire, realmente muito se teria esquecido do nosso país. Não fosse Marco Polo e Colombo, não veríamos o mundo da mesma forma. E hoje? Tudo já não está registrado? Já não há informação demais para nossos pobres cérebros com memória reduzida? Fotos, vídeos, escritos, impressões. Todos já se expressaram de alguma forma. Sobrou algo de novo que valha a pena ser experimentado? Talvez não, mas quem disse que precisamos olhar tudo com os mesmos olhos? Por que não revermos o mundo a partir de nós mesmos, e não somente do outro? Não com soberba e arrogância, mas compreendendo que é o indivíduo o responsável pela construção do presente. É ele o protagonista da sua própria história.
É aí que André Caliman nos apresenta algo de diferente: participarmos dos seus registros não como meros espectadores, mas como personagens vivos de suas impressões. André é mais um destes artistas com formação na área das artes, professor, quadrinista já experiente, com várias publicações, prêmios, participações em coletâneas e uma intensa rotina de trabalho em seu estúdio. Mas isso não é o que importa aqui. É mais importante voltarmos nossos olhos para nós mesmos e em nossa real participação nos fatos que compõem a história do mundo, seja no passado, seja no presente. É isso que André quer que façamos a partir do seu ponto de visão. Aliás, é essa perspectiva que o artista literalmente nos mostra quando ilustra dezenas de lugares no Brasil e na Europa de uma forma inusitada, colocando no mesmo plano o antes e o agora, o antigo e o atual, o velho e o novo, o que foi e o que é.
André Caliman, em 2014, deixa seu estúdio e começa a viajar, meio sem rumo, sem saber o que exatamente encontrar. Começa desenhando coisas a partir das pessoas que encontra e das coisas que vive. É a praxe de todo viajante. Onde chega, saca sua prancheta, prepara o papel e o nanquim e destila traços aleatórios, quase sem rumo, sem saber bem ao certo onde chegar. Enquanto desenha, reflete sobre aquele lugar do qual se faz personagem, mas quase desaparece em meio à presença avassaladora da realidade que ali se aflora. Tropeiros e mochileiros no caminho do Itupava, Paraná; viadutos e arranha-céus na São Paulo de Anchieta e Tibiriçá; alemães nazistas na pacata Oradour-Sur-Glane, França; moças nos smartphones em meio à Londres de Jack, o Estripador; o Templo de Saturno, a Capela Sistina, artistas de rua e turistas em meio às ruínas do Império Romano; prédios novos, asfalto e fumaça nas praias do “descobrimento”, em Salvador; cavalos de colonos, boêmios e barracas de pastel no Largo da Ordem, em Curitiba. André parece querer “salvar a verdade do esquecimento”. E assim, dialoga com o mundo. No Brasil passa pelas suas cinco regiões e na Europa permanece por um tempo na França, Espanha, Portugal, Itália e Inglaterra. Vai publicando essas ilustrações num site e vai inserindo também algumas impressões por escrito, como que anotações de viagem, devaneios imagéticos, verdades fictícias. Disso, dois volumes são publicados: um contendo as ilustrações pelas andanças no Brasil e outro com as viagens pelos países europeus. Tornam-se postais, incitando o leitor a interagir. Na exposição vemos isso tudo. Seus desenhos, seus materiais de viagem, suas anotações.
Todos estes lugares são perenes e ao mesmo tempo mutáveis. Carregam para sempre a história de que foram palco e se transformam a cada dia. Muitos viajantes ilustraram suas vivências e cada um deixou também um espaço vago ao seu lado para que olhássemos tudo por conta própria. Nada é para sempre, nem o que é bom, nem o que é mau. Não seremos os mesmos daqui a pouco e, como diz André Caliman “nenhum lugar será como aqui, nem mesmo este lugar será.”
Rogério Bealpino – curador
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caliman.hq@gmail.com
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